Atualmente com a ascensão do Jiujitsu1 brasileiro oriundo do 高專柔道 Kosen Judô, um ramo do Judô que enfatiza as habilidades de luta no solo, mantém muito conteúdo antigo do 柔術 Jūjutsu.
O termo 寝 NE, significa literalmente deitar, dormir, descansar, indicando que em vários estilos de Jūjutsu, o "寝技 Newaza (técnicas de solo)" foi inicialmente praticado e incluído em algumas 流派 Ryūha (estilos, correntes), mas não como conhecemos hoje, refere-se à quando um indivíduo está deitado ou dormindo e é subitamente atacado pelo inimigo. Como o corpo está em uma situação desfavorável, como ser incapaz de resistir com habilidade total ou ainda em estado mental influenciado pelo sono, impossibilitada de obter ou alcançar rapidamente as armas ao seu redor para um natural contra-ataque, especial técnicas de contra-ataque precisaram ser usadas para enfraquecer a força do ataque do oponente e ajustar rapidamente a posição do corpo. Deitado para sentado, ajoelhado, e até mesmo totalmente em pé em estado de luta, com as mãos nuas contra inimigos em pé e armado é a origem da técnica do solo.
Na cultura asiática, nesse caso o Japão, existe uma comunhão das pessoas com a terra, deitar e sentar no chão não é visto de forma negativa como em outras culturas. Dessa maneira, era esperado que técnicas marciais surgissem das necessidades inerentes ao cotidiano das pessoas da época, assim, saber sobreviver em luta corporal nas situações adversas, como sentado ou deitado foi uma necessidade fundamental. Também é coerente dizer que, na maioria das vezes, o combate que inicia em pé pode acabar em aderência, e consequentemente no chão.
Tradicionalmente a maioria das tradições antigas incluem em seu currículo 型 Kata (formas pré-estabelecidas) aplicado em 座技 Suwariwaza ou 居取 Idori (postura sentada), seja com ou sem arma, e em muitos casos a finalização dessas formas podem terminar em Newaza.
Também em algumas tradições, criadas em período de guerras, receberam a influência de Yoroi Kumiuchi (técnicas de combate usando Yoroi ou armadura), que comumente forçavam os guerreiros a derrubar seus oponentes para finalizar efetivamente no solo, já que a armadura, por sua boa proteção corpórea, dificultava derrotá-lo em pé. No chão montado sobre o inimigo, facilitava imobilizar e alcançar aberturas em sua armadura para estocar ou cortar as áreas vulneráveis.
No entanto, ir ao solo também trazia vulnerabilidades, já que em combate campal com centenas ou milhares de combatentes, qualquer descuido acarretaria a morte.
Curiosamente existem relatos em documentos dos espiões Shinobi ensinando como dormir com segurança e não ser surpreendido por um inimigo, essa habilidade técnica também é encontrado em tradições Samurai.
Seja 立ち Tachi, 座り Suwari, 捨て身 Sutemi, 飛び Tobi, 受身 Ukemi, 寝技 Newaza entre outros, todos têm igual importância na prática do Budô, não subestime!
Imagem retirada do documento 小栗流和組物 Oguri Ryū Wa Kumimono (Séc. XVII)
Assim concluo esse resumido texto, pois existem muitos outros fatos quando delineamos as milenares tradições marciais, indicando que quando estudamos disciplinas de combate, a época, localidade, suas características e necessidades especificas, devem sempre estar unidos com a coerência e bom senso para não limitarmos o 武道世界の極意 Budô Sekai No Gokui (misterioso mundo das artes marciais) em um rótulo.
- O termo Jiujitsu, usado e registrado como uma modalidade brasileira, foi um mal entendido linguística e replicado de forma permanente. A denominação "Jiujitsu", é o resultante de erros, muito comuns quando desconhecida, na pronuncia de uma língua estrangeira. Um erro vem da tradução devido ao sistema fonético ocidental contra o sistema fonético japonês que fez com que termo 柔術Jūjutsu tornasse Jujitsu nos países europeus onde primeiramente migrou e o Jiujitsu que conhecemos no Brasil, hoje conhecido mundialmente. Esse equivoco surgiu possivelmente por dois fatores: um foi a interpretação da escrita 振り仮名 Furigana, que usa o 平仮名 Hiragana em caracteres pequenos ao lado do caractere Kanji, usada para facilitar a leitura. Nesse caso os Kanji 柔術 Jûjutsu acompanha os Hiraganaじゅうじゅつ (JIyUJIyuTSU) e como não existe na sua forma pura em japonês, ela é a contração das sílabas "Ji" e "Yu". A junção das duas sílabas forma o Jū (柔) e não "Jiu". Um outro fator quase não relatado, indica que no período que os praticantes de Judô avançados viajaram o mundo para divulgar sua arte, quase sempre estavam relutantes em usar o nome Judô do 現代武道 Gendai Budô (artes marciais modernas) e continuaram usando a forma de Koryû (forma antiga) Jûjutsu.
Kaichô Roberto Alves