O 招き猫 Manekineko é com certeza um dos mais conhecidos talismãs (縁起物 Engimono) da cultura nipônica. Ele é tão conhecido quanto figuras de peso do universo pop japonês, como a Hello Kitty e o Doraemon, mas não é um personagem de Mangá. Sua origem é mais antiga, de quase dois séculos atrás, e há tantas histórias que ninguém sabe dizer com precisão se são verdadeiras ou não.
O 招き猫 Manekineko que literalmente pode ser traduzido como “Gato que acena”, é uma das figuras mais tradicionais do Japão, existe até um templo chamado 豪徳 Gôtoku no bairro 世田谷 Setagaya (Tokyo) para os seguidores do talismã. O local é cercado por jardins bem cuidados e há um oratório informal, com estátuas de Manekineko.
O gesto do Manekineko que parece ser um convite ou um aceno, na verdade é o gesto de um gato limpando seu rosto. O gato é um animal tão sensitivo, que pressente a chegada de uma pessoa ou a aproximação de chuva. Essas mudanças em sua rotina, o deixam inquieto. Então, ele começa a dar voltas ou esfregar seu rosto, pois esse tipo de comportamento tranqüiliza-o. Mas para um ser humano isso pode ser interpretado como “se o gato esfrega seu rosto, é sinal de chuva ou de visita”. Essa pode ser uma das origens da lenda do Manekineko.
A crença diz que ele tem o poder de atrair bons negócios, prosperidade e dinheiro. Por causa desses atributos, acabou “adotado” pelos comerciantes, que enfeitam seus estabelecimentos. Mas o Manekineko também tem tamanho status, que é adquirido por qualquer pessoa que está à espera de uma mudança em sua vida ou na dos outros.
Se prestarmos atenção, descobriremos outros detalhes como o que está pendurado no pescoço do gato ou o que ele carrega na patinha. Há versões em que ele traz uma coleira vermelha, comum na Era Edo, ou um pequeno guizo, quando o gato era um animal de estimação caro.
E nas patas carrega um 小判 Koban no valor de dez mil Ryô (万千兩 Senban Ryô,) antiga moeda japonesa, que na verdade tinha o valor de um Ryô, e não dez mil, esse atributo não é visto nos Manekineko mais antigos, pois, é uma característica mais moderna e comercial.
Há diferentes lendas a respeito de sua origem, conforme a região do Japão. Segue uma das versões oriundo do lado leste do Lago 琵琶 Biwa, na região central do Japão.
Conta à lenda que quando o lorde guerreiro 井伊直孝 Ii Naotaka (1590-1659) voltava do cerco e tomada do Castelo de 大阪 Osaka, após ter comandado 3,2 mil homens e se destacado na Batalha de 天王寺 Tennoji, em março de 1615, surpreendido por uma chuva repentina, abrigou-se em baixo de uma árvore próximo do Templo 豪徳寺 Gôtokuji, em Setagaya.
Gotokuji, na época, era um templo decadente, com pouca freqüência de fiéis e, portanto, muito pobre. No templo, vivia um monge budista e uma gata de nome Tama. Solitário, o monge conversava com a gatinha lamentando quase sempre a situação de penúria do templo.
– A situação está cada vez pior. Hoje, nem temos arroz para comer. Bem que você podia dar uma ajuda para melhorar nossa situação, em vez de ficar dormindo o dia inteiro.
Esperando a chuva passar sob a árvore, Ii Naotaka olhou para o velho templo e viu um gato sentado sobre suas patas traseiras e acenando com a pata dianteira levantada. O samurai ficou encantado pela habilidade do bichinho e foi em direção do templo para ver de perto a façanha.
Quando Naotaka chegou junto ao templo, um raio fulminante atingiu a árvore exatamente no local em que ele estava encostado. O guerreiro imediatamente percebeu que aquele gesto do gato havia salvado sua vida. Então, entrou no templo para rezar em agradecimento à graça recebida.
No salão principal, havia várias goteiras, e todo o templo estava em condição lamentável. Naotaka fez oferenda de todo o dinheiro que carregava ao altar, comentando com o monge que a sabedoria de Buda iria usar aquele dinheiro para reformar o templo. Após esse episódio, Naotaka passou a freqüentar o Gotokuji, e o local tornou-se, então, o templo oficial da família de Ii Naotaka. Conseqüentemente, tornou-se um local próspero e visitado por todas as pessoas do feudo.
Para homenagear o gesto de Tama, que tanta sorte trouxe ao templo e salvou a vida de Naotaka, foi esculpido e colocado no local uma estátua da gata com a pata levantada. As réplicas em miniaturas da estátua, que eram distribuídas no Templo Gotokuji como lembrança, tornaram-se, mais tarde, amuleto da sorte, com o nome de Manekineko.
Outra versão
História também bastante conhecida, surgida nos meados da Era Edo (1615-1868), conta que existiu, no bairro de 今戸 Imado, em Edo (atual Tokyo), uma velha senhora que tinha um gato de estimação. A velhinha estava em péssimas condições financeiras, porque, devido à idade avançada, não conseguia arranjar um trabalho para garantir seu sustento.
Numa determinada ocasião, a situação ficou tão crítica, que ela não tinha mais como alimentar seu gatinho. Então, conversando com o bichinho, disse:
– É com o coração partido que terei de abandonar você. Devido à minha condição de extrema pobreza, não tenho como continuar lhe alimentando.
Depois, com lágrimas nos olhos e barriga roncando, a velhinha foi dormir. Em seu sonho, o gato apareceu e disse: – Molde minha imagem em barro, que trará muita sorte a você.
No dia seguinte, ela resolveu fazer uma estatueta do gato, conforme o sonho havia sugerido. Enquanto ela moldava o barro, o gato estava “lavando a cara” com gestos exagerados e, achando engraçado, a velhinha resolveu moldar o bichinho com a pata levantada. Nisso, passou uma pessoa em frente de sua casa e, achando interessante, quis comprar a estatueta. Como estava dias sem comer, a velhinha vendeu a estatueta e comprou comida para ela e o gato. Assim, de barriga cheia, resolveu fazer outra estatueta para deixar como talismã da sorte. Porém, apareceu outra pessoa e comprou a segunda estatueta.
Quanto mais a velhinha fazia estatuetas, mais aparecia gente para comprá-las. Com isso, ela mudou de vida e nunca mais passou necessidades. E a estatueta da sorte passou a ser conhecida como Manekineko.
Outra versão
É da Era 明治 Meiji que vem uma das histórias mais incomuns. O Japão tinha planos de se ocidentalizar e proibiu símbolos sexuais e de fertilidade, usados em bordéis da época. Por isso, surgiu o gato com a pata para cima, para indicar o aceno das prostitutas. Ao longo das últimas eras, entretanto, o Manekineko ganhou significados muito mais nobres e acabou enormemente popular.